sábado, novembro 23, 2024

Deixo que o silêncio



Deixo que o silêncio

abafe a minha voz.

Um pássaro esvoaça

sobre um barco

ancorado na praia.

O dia permanece claro.

O vento de outono assobia

sobre as folhas caídas.

No meio da calçada

uma flor renasce.

É a vida a renovar-se

em cada dia

no meu olhar,

na minha vida.


Texto e foto
Emília Simões
23.11.24


sábado, novembro 16, 2024

Partiste minha Mãe



Partiste minha Mãe

e não dissemos adeus.

Uma folha ao vento

levou-te para lá das nuvens

e o céu abriu-se para te receber.


O rio, lá em baixo, guarda

os ecos do meu sentir.

Dos meus olhos escorre o orvalho

que vai engrossando o caudal,

desse rio, que corre placidamente.


Da última vez que te vi, inerte,

parecias sorrir e, essa imagem, 

quero guardá-la em mim,

para sempre.


Já não te vou ver mais, Mãe.

Já não podemos trocar um beijo,

um abraço...

Mãe, partiste e deixaste

um vazio na minha vida.


Com as tuas memórias

reaprenderei a viver

na saudade da tua ausência.

Descansa em paz!

In Memoriam
minha Mãe
1931-2024

Texto e foto
Emília Simões
15.11.2024

sábado, novembro 02, 2024

Para encontrares o belo

freepik


Para encontrares o belo

terás que calcorrear vales

e montes,

atravessar silêncios

galgando rios

caminhos lamacentos

enfrentar feras

e talvez no fim do caminho

encontres o que procuras;

a luz refletida

em simples flores

no cimo duma montanha. 


Texto 
Emília Simões
02.11.2024

sábado, outubro 26, 2024

No silêncio do outono


No silêncio do outono
ouço o vento nas folhas
que caem impiedosamente
e a chuva que as embebe
deixando-as brilhantes
no chão escorregadio.

No silêncio do outono
revejo folhas antigas
que me trazem memórias
embutidas no meu ser.

No silêncio do outono
entro na tua casa
e as paredes brancas e frias 
falam-me de ti
a observar o rio lá em baixo,
que corre límpido como o teu olhar.

No silêncio do outono
recolho-me, não ouço a tua voz
e não tarda é inverno outra vez.

Texto
Emília Simões
26.10.2024
Imagem Pixabay

sábado, outubro 19, 2024

Ainda será tempo de salvar a Terra?



Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem não ambicionar tesouros

se o poder não for a sua sede

mas o amor a sua ambição.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se os vilões que fomentam a guerra

e fazem alastrar a fome e a morte

semearem campos de trigo

e plantarem sementes de paz.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o egoísmo der lugar ao desapego

e o Homem aprender a viver

com modéstia  e sentido de justiça.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem beber das águas das fontes

e ficar saciado com o ar puro, a beleza e a luz

que emanam deste ainda tão fascinante Planeta.


Ainda será tempo de salvar a Terra?


Texto
Emília Simões
19.10.2024
Imagem Net

sábado, outubro 12, 2024

As palavras

 


Hoje as palavras estão escondidas num ninho.

Levanto voo para alcançá-las, mas

a gravidade deita-me ao chão.

Ergo-me e tento trepar.

O tronco, escorregadio,

faz-me resvalar e cada vez mais

as palavras se afastam.

Chove e os pássaros, taciturnos,

não abandonam as crias.

As palavras estão cada vez mais longe.

Tento voar numa folha ao vento

para as agarrar mas, teimosas,

ignoram-me.

Esqueço-me, por instantes,

que ainda não é o tempo

propício das colheitas.


Texto e foto
Emília Simões
12.10.2024

sábado, outubro 05, 2024

Passo à tua porta

 
José Malhoa


Passo à tua porta, subo o degrau;

a pedra desfaz-se sob os meus passos.

O tempo pesa sobre o meu corpo

tão distante da leveza dos gestos,

quando te procurava e me enlaçavas

nos teus braços tão fortes

que me faziam sentir muito amada.

O tempo tudo traz e tudo leva,

mas como as folhas  caídas

que atapetam o chão no outono,

na primavera brotam revigoradas

 e volto a sonhar outra vez

com a leveza e ternura dos gestos,

 gravados no meu viver,

Texto
Emília Simões
04.10.2024


sábado, setembro 28, 2024

No fundo dos meus olhos

 


No fundo dos meus olhos leio os teus.

Misturam-se num terno olhar que

os eleva num doce e húmido sentir.


Quando os olhos se encontram

tudo paira para além dos sentidos,

mergulhando-os ternamente,

como nenúfares, num lago azul,

onde o céu reflete a claridade das nuvens.


O sol brilha e entoa

numa suave e refrescante aragem,

uma breve e anunciada sonata de outono.


Texto e foto
Emília Simões
11.09.2024

sábado, setembro 21, 2024

O outono que se apressa


As folhas secas espalhadas no chão,
anunciam o outono, que se apressa.
O vento assobia e as folhas, em desalinho,
dançam num vaivém frenético a melodia
do verão, que se despede.
O seu olhar segue o movimento das folhas
e o dourado da tarde ofusca-lhe os sentidos,
que se misturam com o entardecer.
Os dias serão mais curtos, as noites mais longas.
O tempo encurta as horas, os minutos...
Por momentos, o seu pensamento turva-se
numa nostalgia que compunge.
Não pode voltar atrás!
O relógio acelera, mas o seu tempo
será o tempo do porvir das primaveras,
porque em cada estação há sempre
uma flor mágica a ser colhida.

Texto
Emília Simões
19.09.2024
Imagem Google

sábado, agosto 24, 2024

Vida e poesia

A origem da vida

 

os frutos maduros


uma folha caída
no silêncio da tarde
ouve os murmúrios 
de quem passa,
que finge não ver a poesia
que existe em qualquer tempo,
em qualquer ângulo,
em qualquer fuga,
na árvore quase nua
que escuta o pio
solitário dos pássaros.


Texto e fotos
Emília Simões
24.08.2024

Informo os meus amigos que farei uma pausa durante algum tempo.