sábado, junho 14, 2025

Na solidão dos dias

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Na solidão dos dias a minha mente viaja
para um tempo em que o mundo era puro
habitado por gentes simples e com um sol mais radiante.

Nas correntes de águas límpidas viam-se cardumes de peixes
que se moviam com graça e suavidade.

A lua e as estrelas cintilavam no céu
e a noite era um cenário majestoso e belo.

Nos campos flores de mil tonalidades
sorriam-me sempre que me debruçava para as apreciar.

Era uma época de quase nada,
porém oferecia quase tudo em termos de beleza, cor e harmonia.

Gestos singelos mitigavam  dores e sedes,
em amistosos convívios nas sombras, dos dias quentes de verão.

A palavra guerra não existia.
A amizade, a entreajuda, as risadas e brincadeiras
ajudavam a amenizar períodos de trabalho árduo,
mas a respiração era leve.

Texto
@Emília Simões
14.06.2025

sábado, junho 07, 2025

Em silêncio escuto o universo

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Em silêncio escuto o universo.

As sombras sussurram o medo

sufocadas por trevas sem fim,

que refletem nos escombros

a vergonha da humanidade.


Os pássaros deixaram de cantar

a melodia do alvorecer;

enfileirados num galho,

estáticos, não ousam acordar.


Num movimento incessante

passos sem corpos cruzam-se

no vazio da noite,

num mundo transmutado.


Chegou o momento de despertar,

de abraçar as luzes

que dissipam a escuridão

e alimentam os sonhos.


Texto
@Emília Simões
07.06.2025

sábado, maio 31, 2025

As palavras tardam

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As palavras tardam no reverso do verso.

O silêncio abriga-as e recolhidas não se soltam,

coladas à garganta, que sufocada pela inação,

não as deixa fluir.

A minha voz, cada vez mais rouca,

imperceptível, não soletra nenhuma palavra,

nem uma sílaba, uma letra sequer.

Na minha angústia brado ao vento 

que me sopre uma brisa, um novo alento,

que me deixe respirar as palavras.

Num instante os sentidos despertam.

As palavras brotam e com elas 

novos versos, novas rimas, preenchem

o meu vazio e a essência é revelada.


Texto
@Emília Simões
31.05.2025



sábado, maio 24, 2025

Permite que a luz

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Permite que a luz penetre a minha sombra
e liberte os destroços que me levam à queda
nos abismos, que cruzam os meus percursos.


Permite que o meu olhar se estenda até ao horizonte
para apreciar o voo das aves
na melodia do entardecer, que acolho no meu peito.


Permite que o meu sonho se expanda ao longo daquela estrada
por onde caminho descalça e sozinha,
onde apenas procuro o pulsar de uma emoção.


Permite que seja apenas eu e o calor do teu abraço.

Texto 
@Emília Simões
24.05.2025




sábado, maio 17, 2025

A casa parece-me tão longe...

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A casa parece-me tão longe...
Partiste e deixaste-a vazia.
As andorinhas ainda fazem o ninho no beirado
e as rosas do quintal ainda lá estão perfumadas.

O meu silêncio fala-me de ti
e da casa cheia, com os risos das crianças,
e das festas que improvisavam só
para te ver sorrir.

Tudo está diferente e até o tempo
anda caótico, em alternâncias constantes,
num Planeta já tão pouco azul.

Os peixes do rio também
já não são os mesmos. A poluição matou-os.
Agora já nem lhes sei os nomes.

Quero apenas recordar o tempo
do nosso tempo, tão claro, tão transparente,
com o sol nascente e poente
a incendiar-nos os dias.


Texto:
@Emília Simões
17.05.2025

sábado, maio 10, 2025

A primavera


A primavera é feita de coisas, que não precisam de nomes.
Tonalidades diversas a perder de vista...
Pássaros a gorjear voejando em redor do ninho;
a cria espia a migalha que a mãe lhe coloca no bico.
Uma orquestra toca, suavemente, a melodia
da paz e da esperança e os insetos cirandam
à volta do néctar, que sugam com sofreguidão.
Lá longe a casa continua deserta, sombria,
cercada por muros de primaveras remotas.
Já não a reconheço, a primavera é feita de coisas
que guardo entre as minhas mãos.


Texto e foto
Emília Simões
10.05.205



sábado, maio 03, 2025

Um manto de silêncio



Um manto de silêncio envolve-me;
a minha alma submersa em penumbra
soturna, por não te encontrar.

Talvez o cansaço não me deixe respirar
a natureza, repleta de árvores a dançar
e os pássaros alegres, que voam em meu redor,
tentando despertar-me desta letargia.

Vislumbro no horizonte uma luz
que me fixa intensamente.
Talvez seja o reflexo do meu sentir
mergulhando placidamente nas cores
do entardecer.
.................................................
Anoitece e dentro de mim, sinto
o revoar de um novo amanhecer,
de uma nova esperança, que me
acorde deste silêncio profundo,
que me faça acreditar num novo rumo.


Texto e foto
Emília Simões
03.05.2025


sábado, abril 26, 2025

Na sede que se fez alvorada

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Na sede que se fez alvorada

ainda ressoa o canto dos pássaros

que, em grande alvoroço,

sobrevoavam as cidades

clamando por justiça e amor.

Os ecos eram tão vigorosos,

que estradas se rasgaram de lés a lés

e todos avançavam no mesmo sentido,

a espalhar a notícia, que pairava no ar.

Foi um dia único na vida de um país

cinzento, triste, em que a primavera

se celebrava apenas nos campos.

Foi plena a festa que, nesse dia,

fez germinar nas cidades

campos de flores vermelhas.


Texto 
Emília Simões
26.04.2025

sábado, abril 19, 2025

Abro a porta ao silêncio


Abro a porta ao silêncio
e refugio-me nas memórias,
que tenho albergadas em mim.

São memórias longínquas,
que se vão desvanecendo,
como nuvens que se desfazem
impelidas pelo vento, deixando uma
estrada no céu.

Distancio-me, indolente,
tentando enxergar outro lugar para
guardar as lembranças,
que submergem entre sombras
e solidões que, de instante a instante,
se mostram à minha passagem.

Procuro uma luz para as proteger,
para que fiquem intactas, sempre
que me recordar dos dias em que tudo
era claro e as aves voejavam
em alegres bandos, dentro de mim.

Reedição revista
Emília Simões
29.01.2024
Imagem Google

Desejo a todos uma santa e feliz Páscoa!

sábado, abril 12, 2025

Escrevo sobre pedras e espinhos

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 Escrevo sobre pedras e espinhos;
a rota é dura e longa
e o meu traço desgasta-se
 como poeira ao vento.
Perdi-me nos trilhos;
não reconheci nas pedras
o esquiço do meu trajeto
e fiquei desamparada e só.
No  meu silêncio,
tentei escutar-te 
nas encruzilhadas 
dos caminhos.
A tua voz velada
sumiu-se e não te ouvi.
Sentei-me no cimo dum monte
a perscrutar o horizonte.
.........
Nos passos do teu deserto,
encontrei-me.



Texto
Emília Simões
12.04.2025